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Margarete Modas
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‘Fear of Going Out’, a síndrome do medo de sair às ruas durante a pandemia

Brasil

Conforme a Covid-19 avança, mais informações relacionadas a doença causada pelo novo coronavírus são descobertas pela ciência e divulgadas para a sociedade. Depois de  sete meses de mudanças na rotina ao redor do mundo para frear a disseminação do patógeno, o medo se tornou um sentimento presente — que em alguns casos, segundo especialistas, pode se tornar uma resposta emocional patológica.

O receio de sair é compreensível, uma vez que a recomendação para evitar o contágio pelo Sars-CoV-2 é o distanciamento físico. Com o relaxamento das medidas de isolamento social e a reabertura do comércio, que levou uma grande parcela de pessoas de volta às ruas, especialistas em saúde mental e neurociência alertam para o aumento de uma vertente da ansiedade: o Fear of Going Out (Fogo), um transtorno psicológico associado ao medo de sair de casa.

Para Daniel Mograbi, pós-doutor em psicologia e neurociências pelo Instituto de Psiquiatria do King’s College London, o medo de sair de casa é uma vertente da ansiedade.

— O medo de sair de casa é uma sequela da ansiedade, que está agravada durante a pandemia. Esse medo ocorre quando a pessoa tem algum evento estressante na rua, como um ataque de pânico. Agora, com a pandemia, a rua se tornou um espaço potencialmente perigoso. Ou seja, foi acrescentado aos medos existentes o novo medo, que é a infecção pela Covid-19 — explica.

A biomédica e doutora em psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Deborah Suchecki explica que o sentimento se relaciona com a novidade gerada pela Covid-19:

— A pandemia aconteceu de uma hora pra outra, em um momento que a sociedade não tinha recursos psicológicos para isso. O medo de se expor é um comportamento de autopreservação e sobrevivência. No entanto, é preciso ter cuidado para o descontrole do medo, gerando um sentimento patológico.

Somatização

A estudante Mariana Passos, de 24 anos, conta que o medo de sair de casa a deixa paralisada mesmo durante tarefas diárias.

— Uma vez, quando fui jogar o lixo na lixeira do meu prédio, encontrei duas pessoas e fiquei desesperada. Estou saindo apenas para o necessário, e quando isso acontece, fico muito angustiada. O medo começa dentro do elevador. Mesmo quando volto para casa fico agitada, pensando se de alguma maneira fui contaminada — desabafa.

A jovem relata que está fazendo acompanhamento psicológico:

— Estou fazendo acompanhamento psicológico porque tive crises de ansiedade. Quando tudo acabar, não sei se vou conseguir sair com frequência. No momento, estou com muito medo de sair novamente.

Segundo Mograbi, há meios de se contornar a situação. Mas é preciso ficar atento, já que a ansiedade pode se agravar, principalmente em quem já tem tendência, levando à somatização.

— De uma forma geral, a pandemia fez explodir os casos de ansiedade pelo medo de contágio e também pelas limitações relacionadas ao lazer. Por isso, se a pessoa está com um pânico, a recomendação é começar devagar. Em um quadro mais leve, exercícios de respiração e práticas contemplativas ajudam. Já em cenário mais grave, recorrente na rotina, aconselho acompanhamento médico — diz o psicólogo.

 

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