Após a conclusão do inquérito, o Ministério Público do Acre (MP-AC) informou que todos os sete indiciados por participação no crime bárbaro envolvendo uma família boliviana na fronteira do Acre foram denunciados e aguardam audiência de instrução.
O crime ocorreu no último dia 13 de setembro, próximo das cidades acreanas de Acrelândia e Plácido de Castro, na região de fronteira com a Bolívia. Uma mulher boliviana e os dois filhos foram mortos a tiros depois que a filha de 14 anos foi estuprada por um acreano.
Sem dar detalhes, já que o processo está em segredo de Justiça, a promotora responsável pelo caso, Bianca Bernardes Moraes, confirmou que todos os sete foram denunciados ainda no início do mês de novembro.
Segundo ela, o processo só aguarda a manifestação por parte dos advogados dos réus para então o juiz marcar a primeira audiência de instrução. A promotora informou ainda que o adolescente apreendido suspeito de participação no crime já foi representado, julgado e condenado. No entanto, Bianca não informou o tempo de condenação do menor e nem por qual crime.
“O processo dos maiores está correndo bem rápido. O que cabia ao Ministério Público, à polícia e ao juiz tem sido feito de pronto. O menor já foi condenado para permanência da internação. No entanto, a gente não pode entrar em detalhes com relação ao caso do menor, pelo processo correr em segredo de Justiça. O juiz tem planos de nos próximos dois meses marcar a audiência de instrução. Atualmente, o processo só aguarda manifestação do advogado dos réus”, disse a promotora.
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Polícia Civil conclui inquérito sobre chacina de família boliviana na fronteira do AC
As sete pessoas foram denunciadas pelos crimes de triplo homicídio qualificado, corrupção de menor, ocultação de cadáver, estupro, homicídio tentado, posse ilegal de arma de fogo e por integrarem organização criminosa.
Do total de indiciados e denunciados, cinco estão presos no Complexo Penitenciário de Rio Branco e outros dois seguem foragidos. O adolescente condenado por participação no crime do crime está apreendido em um centro socioeducativo de Rio Branco.
Entre os suspeitos estão Gean Carlos Alves da Silva, José Francisco Mendes de Sousa, Geane Nascimento da Silva, Gean Carlos Nascimento da Silva, Gilvani Nascimento da Silva, Gilvan Nascimento da Silva e Luciano Silva de Oliveira. Todos da mesma família.
O inquérito policial foi concluído no último dia 7 de outubro, mas a informação foi repassada pela Polícia Civil somente na sexta-feira (4), a pedido do G1.
Relembre o caso
O crime ocorreu no último dia 13 de setembro, na área de fronteira entre o Acre e a Bolívia, depois que o pai de uma adolescente de 14 anos flagrou um acreano estuprando a filha e decidiu amarrá-lo para chamar a polícia.
Parentes do suspeito de estupro, então, apareceram e atacaram a família boliviana em sua propriedade. Após atirar contra a família (mãe e dois filhos morreram), os suspeitos ainda queimaram a casa. A adolescente que foi estuprada também foi baleada, mas sobreviveu após ser socorrida.
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Corpos foram achados na propriedade da família boliviana na área de fronteira — Foto: Arquivo/PM-AC
Suspeitos devem responder no Brasil
A polícia informou que desde que tomou conhecimento do assassinato da família boliviana deu inicio às investigações e que já foram identificadas todas as pessoas suspeitas de envolvimento no crime.
Ainda na sexta (4), policiais civis da cidade de Acrelândia fizeram uma ação em um endereço onde supostamente os dois foragidos estavam, mas eles conseguiram fugir ao entrar na mata. A polícia informou ainda que continua as investigações no sentido de prender essas pessoas que seriam as “cabeças” do crime.
“Quero destacar o trabalho da equipe de investigação, que andou em floresta, mata fechada, teve risco de tiro, foi uma situação bem peculiar esse caso e, graças a esse trabalho, conseguimos o fechamento do inquérito. Identificamos todos, prendemos a maioria, ou seja, essa situação não vai ficar impune”, afirmou o delegado responsável pelo caso, Samuel Mendes.
Ainda segundo o delegado, os suspeitos devem responder aos crimes no Acre. “Quando o fato ocorre no exterior, mas os autores fogem para o lado brasileiro, desde que atente a alguns quesitos legais, eles podem responder pelo crime em território brasileiro.”
Adolescente e pai continuam em abrigo
A adolescente boliviana que viu a mãe e os dois irmãos serem mortos e também levou tiros continua em um abrigo no Acre com o pai. Eles são acompanhados por uma equipe do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Infância, Educação e Execução de Medidas Socioeducativas (Caop) do Ministério Público do Acre.
A menina levou quatro tiros no ataque e ficou internada em Rio Branco por 40 dias. Ela teve alta médica no dia 23 de outubro, após passar por três cirurgias, no braço e no maxilar.
Segundo uma amiga da família boliviana, que tem dado suporte enquanto eles estão no Acre, uma quarta cirurgia está marcada para ocorrer no próximo dia 9 de dezembro para retirada dos pinos que estão no braço da adolescente. O G1 não conseguiu contato com o pai da menina até última atualização desta reportagem.
O consulado da Bolívia no Brasil informou ao G1 que está acompanhando o caso, mas que, por recomendação da polícia, não poderia comentar sobre os procedimentos. No dia 16 de setembro, o consulado chegou a dizer que não sabia do crime.