Com a vacinação infantil ainda recém-começando no Brasil, pais e responsáveis de meninas e meninos de 5 a 11 anos estão cheios de dúvidas sobre como lidar com a infecção por coronavírus. Como protegê-los? Há sintomas específicos entre eles? Qual o tratamento a ser seguido? Daniel Becker, pediatra, sanitarista e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid da Prefeitura do Rio, decidiu escrever uma carta aberta aos pais de seus pequenos pacientes, que inundavam seus contatos com dúvidas — e temores — acerca do atual cenário de saúde no país.
Em sua mensagem, o médico tenta acalmar os adultos e passa orientações práticas e reforça seu apoio à vacinação contra a Covid-19 para a faixa etária. O pediatra destaca que dificilmente uma criança vai ter um quadro grave ao se infectar pela Covid-19. No entanto, a necessidade de internação pode acontecer e, por isso, os pais e responsáveis devem ficar atentos ao estado de saúde da criança.
Dados contabilizados pelos Cartórios de Registro Civil brasileiros mostram que, entre março de 2020 e janeiro deste ano, foram notificados 324 óbitos de crianças na faixa de 5 a 11 anos causados pela Covid-19. Dentre as mortes, 65 ocorreram em pequenos de apenas 5 anos de idade.
No texto, Becker chama atenção para os grupos que fazem campanha contra a vacinação das crianças, os classificando como “ferozes” e se diz impressionado com o número de mentiras espalhadas por eles. Desde que as autoridades brasileiras começaram a discutir a possibilidade de vacinar crianças a partir de 5 anos, vários grupos têm tentado aterrorizar pais e responsáveis a fim de impedi-los de imunizar seus pequenos contra a Covid-19.
— A imensa maioria dos pais quer vacinar as crianças — afirma o médico. — Alguns pais estão com medo de mandar seus filhos de volta para a escola sem que elas tenham sido imunizadas ainda.
Caso a infecção não seja evitada, confira abaixo algumas dicas dadas pelo pediatra Daniel Becker sobre o que fazer.
Covid nas crianças
1- Quais são os primeiros sintomas
Para qualquer pessoa — criança ou adulto — com quadro febril, gripal (incluindo dor de garganta e cefaleia), ou gastrointestinal (vômitos, diarreia) é preciso ficar em casa e testar. Pode ser PCR ou Antígeno, já no 2º/3º dia de sintomas. Se um adulto sintomático testar positivo e houver crianças com sintomas em casa, elas podem ser consideradas positivas por suposição.

2 – O que fazer quando os sintomas aparecerem
O critério principal segue sendo avaliar o estado geral: se está comendo, brincando, sorrindo quando sem febre, podem seguir tratando em casa. Os quadros gripais devem ser leves a moderados e melhorar com 3 a 5 dias.

3 – Tratamento
O tratamento deve ser feito com muito soro nasal em spray, lavagem nasal com soro morno se a secreção ficar mais espessa ou nariz entupido, nebulização com soro, muito líquido (importantíssimo), frutas, comer o que conseguir, evitar biscoitos e outros ultraprocessados. É importante oferecer água ativamente, e com frequência. Hidratação é muito importante, e a criança não costuma pedir. Nós temos que oferecer. Uma colher de chá de mel três vezes por dia para os maiores de 1 ano e meio ajuda a acalmar a tosse.
Só precisa tratar a febre acima de 38.5°C se a criança estiver caída, incomodada, chorosa, com alguma dor. Usem Paracetamol ou Dipirona de preferência. Atenção, a dose não é uma gota por kg, especialmente nos mais velhos. Novalgina: dose de 0,6 a 0,8 gotas por quilo de peso, dose máxima de 20-25 gotas. Tylenol: 0,8 gotas por quilo. Evitem repetir a dose antes de seis horas de intervalo. Banho morno ajuda a abaixar a febre e se sentir melhor. Nunca gelado.
Dificilmente alguma criança fará um caso mais grave. Crianças de menos de um ano merecem observação mais atenta.

4 – Quando ir para o hospital
Se a febre persistir até o 4º/5º dia e o estado geral for ruim, se houver piora progressiva ou alteração respiratórias, ou qualquer sinal mais alarmante, a criança deve ser examinada. É o momento de entrar em contato com o pediatra ou levar a uma emergência.

5 – Efeito da vacina
Vacinem seus filhos. Os antivacina estão ferozes e espalhando muitas mentiras, é impressionante. Não existe segurança absoluta em nenhum produto, mas o risco das vacinas é muito menor que o da doença, a ciência é assertiva em demonstrar isso. Se a criança teve Covid-19, é preciso dar um intervalo de um mês entre o primeiro teste positivo e a dose da vacina.
“Cuidem-se, tomem a dose de reforço, usem boas máscaras. Pode ser nossa última onda. Assim espero”, finaliza Becker.
Fonte: G1