Um estudo do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mostrou que, possivelmente, a praga que atinge plantações de cacau e cupuaçu, a Monilíase do Cacaueiro (Moniliophthora roreri), em Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, no interior do Acre, pode ter chegado ao estado pelo Peru.
A suspeita é de que pessoas que carregavam material contaminado trouxeram o fungo para o estado acreano. Essa foi a tese apresentada esta semana pelas equipes que monitoram os focos da doença nas cidades acreanas.
A praga foi detectada pela primeira vez no Brasil no município de Cruzeiro do Sul no início de julho. Após a identificação da praga, o Mapa e do Idaf iniciaram o trabalho de fiscalização e orientação a produtores de cacau e cupuaçu.
No início de agosto, o Ministério da Agricultura declarou o estado do Acre como “área sob quarentena” para a praga que atinge as plantas e frutos de cacau, a chamada Monilíase do Cacaueiro. O Acre fica proibido de enviar produtos para outros estados.
Inicialmente, o fungo tinha sido achado apenas em Cruzeiro do Sul. Mas, recentemente, foram descobertos novos focos em Mâncio Lima e uma equipe do Ministério da Agriculta foi para o local trabalhar no combate à praga.
“A situação, no momento, é de relativo conforto porque depois de três semanas de intenso monitoramento com toda ação do Idaf identificamos poucos pontos da praga. Então, nesse momento, é fazer um delimitação do tamanho da área afetada, que está entre Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul”, explicou o diretor do Departamento Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do Mapa, Carlos Goulart.
Relatório
O estudo das equipes mostrou também que existe um foco principal que atinge quatro propriedades de Mâncio Lima e duas de Cruzeiro do Sul. “Nos tranquiliza nesse momento termos conseguido imaginar que a praga está vindo, provavelmente do Peru e que o ponto mais a leste do Acre é em Cruzeiro do Sul, na parte urbana. Não detectamos na zona produtiva do cacau e nem do cupuaçu”, contou Goulart.
O diretor acrescentou ainda que as equipes continuam com as ações de monitoramento das plantas infectadas para controlar a proliferação. “Essa ação é permanente até que a gente consiga erradicar a praga do país”, destacou.
A monilíase do cacaueiro é uma doença que causa danos diretos porque o ataque do fungo é exatamente no fruto, que é a parte comercial, tanto do cacau quanto do cupuaçu. O fungo não causa danos à saúde humana, segundo estudos, mas traz graves riscos econômicos.
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Equipes do Idaf e Mapa mostraram relatório do monitoramento feito em Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima — Foto: Erisney Mesquita/Secom
Conforme o Mapa, na América do Sul, a praga era encontrada apenas no Equador, Colômbia, Venezuela, Bolívia e Peru. A monilíase pode causar prejuízos que vão de 50% a 100% da produção, no caso de um ataque mais severo.
O diretor-presidente do Idaf, José Francisco Thum, destacou os cuidados que precisam ser tomados para evitar a disseminação do fungo no estado. Segundo ele, barreiras devem ser montadas ao longo da BR-364 a partir de segunda-feira (30).
“O Idaf junto com a Polícia Militar vai colocar uma barreira próximo ao Rio Liberdade, que será fixa por 24 horas, e que é uma das exigências do Mapa para evitar, o máximo possível, a saída desses produtos. Pedimos muito compreensão e colaboração da comunidade, que entenda que o trabalho que está sendo feito não é para penalizar ninguém, mas, simplesmente, procurando melhorar e debelar esse mal que pode trazer muito prejuízo para economia do Acre”, concluiu.
Descoberta
Um morador de Cruzeiro do Sul percebeu a doença nas frutas e acionou o Idaf no dia 21 de junho. No dia seguinte, um servidor do instituto esteve no local para verificação e foram enviadas amostras para análise.
O laudo oficial do laboratório com a confirmação da praga foi emitido no último dia 7 de julho. Após a descoberta do foco, equipe do governo federal foi mobilizada para fazer o trabalho de monitoramento no estado.
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Equipes monitoram quatro propriedades de Mâncio Lima e duas de Cruzeiro do Sul — Foto: Erisney Mesquita/Secom
Por Aline Nascimento e Glédisson Albano
Fonte: G1