Crianças desaparecidas, supostos rituais macabros, investigações paralelas, corpos encontrados, vários acusados e poucas respostas.
Trinta anos após o desaparecimento de Leandro Bossi, em Guaratuba, no litoral do Paraná, o governo do estado afirmou que uma ossada analisada corresponde com o material genético do menino.
O 83º episódio do PodParaná relembra esse caso de 1992, o desaparecimento de outro menino na mesma região, Evandro Ramos Caetano, e fala com peças importantes de ambas as investigações.
Participam do programa: Lucas Bossi, um dos irmãos de Leandro; Ivan Mizanzuk, jornalista, professor, escritor e criador do podcast “Projeto Humanos”; Beatriz Abagge e Osvaldo Marcineiro, acusados no Caso Evandro; Diógenes Caetano dos Santos Filho, primo de Evandro; e Tomás Kubrusly, um dos advogados que representa três acusados, e agora também a família de Leandro Bossi.
O desaparecimento de Leandro Bossi, em 15 de fevereiro de 1992, quando tinha sete anos, é uma das histórias mais emblemáticas de sumiço de criança no Paraná. Ele foi visto pela última vez em um show do cantor Moraes Moreira.
A mãe de Leandro trabalhava em um hotel da cidade, o pai era pescador. Ambos estavam trabalhando no momento do desaparecimento e quando notaram o sumiço da criança, acionaram a polícia local.
Dois meses depois do desaparecimento de Leandro, o menino Evandro Ramos Caetano, de seis anos, desapareceu na mesma cidade, no dia 6 de abril de 1992. Os dois meninos e os respectivos desaparecimentos tinham características semelhantes.
Evandro estava com a mãe, Maria Caetano, funcionária de uma escola municipal de Guaratuba, e disse a ela que iria voltar para casa após perceber que havia esquecido o mini-game. O menino nunca mais retornou.
Cinco dias depois, um corpo foi encontrado em um matagal sem o couro cabeludo, olhos, pele do rosto, partes dos dedos dos pés, mãos, com o ventre aberto e sem os órgãos internos.
A década de 90 foi marcada por uma espécie de “surto” de crianças desaparecidas na região e, com mais esse garoto sumido e depois supostamente encontrado morto, o medo se instaurou na cidade e em todo o estado.
Sete pessoas foram acusadas pelo crime, entre elas Celina e Beatriz Abagge, esposa e filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge. Dos sete, cinco acusados chegaram a confessar que estavam envolvidos no desaparecimento do garoto e que o mataram durante um ritual religioso.
Poucos dias após as prisões, os acusados passaram a alegar que confessaram o crime porque tinham sido torturados pela Polícia Militar. As fitas das confissões, gravadas pela própria polícia, apareciam com cortes em vários trechos, e essa alegação de tortura nunca foi aceita pela Justiça.
A história do menino Evandro, os sete acusados do crime e o suposto ritual macabro ganhou notoriedade por todo o país.
Em fevereiro de 1993, outra ossada foi encontrada por crianças no mesmo matagal onde estava o suposto corpo de Evandro.
A ossada foi submetida a um exame de DNA que, à época, apontou que o material não era de Leandro Bossi, mas sim, de uma menina.
A família Bossi nunca perdeu a esperança de encontrar o garoto. No dia 10 de junho deste ano, após 30 anos do sumiço de Leandro, o Governo do Paraná afirmou ter identificado ossada dele.
Porém, a amostra é a mesma que teve resultado negativo na década de 90. O material estava sob custódia do Instituto Médico-Legal (IML) do estado.
“30 anos atrás, foi feito em exame de DNA com a tecnologia disponível da época, por um instituto privado em Minas Gerais, e esse exame teria indicado que não se tratava do Leandro Bossi e que seria uma ossada de menina. E, agora, nós estamos contradizendo esse exame com um exame muito mais moderno, muito mais tecnológico, que é uma tecnologia que só está disponível agora”, afirmou o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita.
Lucas Bossi, um dos irmãos de Leandro, lamenta o fato de o pai, João Bossi, não estar mais vivo para acompanhar o caso e exige explicações das autoridades.
“Meu pai esperou até o dia da morte dele aguardando que o Leandro viesse. Meu pai morreu há um ano e dois meses, e a resposta de onde estava Leandro Bossi hoje é clara: ele estava dentro de uma gaveta de um IML. (…) Há 29 anos a gente poderia ter enterrado o Leandro. O que eles fizeram foi atualizar o perfil do meu irmão de criança desaparecida para criança vítima de homicídio”, disse Lucas.
Detalhes dos casos
Durante 30 anos, não houve qualquer nova informação para a família Bossi, e Leandro era considerado pela autoridades policiais uma criança desaparecida.
Contudo, o caso Evandro tramitou judicialmente. Desde os anos 1990, o caso teve cinco julgamentos diferentes. O primeiro foi realizado em 1998 e foi o mais longo da história do judiciário brasileiro, com 34 dias.
Em março de 2020, o jornalista Ivan Mizanzuk apresentou no podcast “Projeto Humanos” áudios das confissões dos acusados sem edições. Os cortes feitos nas fitas usados no processo omitiam gritos de dor e falas que apontam para a tortura dos acusados.
Devido ao sucesso do podcast, uma série documental sobre o caso foi produzida e lançada no GloboPlay. Esta é a primeira série brasileira adaptada de um podcast de sucesso que narra em detalhes o caso Evandro.
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Cena da série documental ‘Caso Evandro’, do Globoplay — Foto: Reprodução/Globoplay
Fonte: G1