Estudar medicina já é, por si só, um grande desafio. Agora, imagine cursar essa faculdade em um país diferente, lidando com uma nova cultura, um idioma distinto e todas as particularidades que a vida na fronteira impõe. Essa é a realidade de muitos estudantes brasileiros que escolhem universidades na Bolívia para realizar o sonho de se tornarem médicos.
Na região de Epitaciolândia, no Acre, atravessar a ponte para Cobija, na Bolívia, faz parte da rotina de quem vive esse cotidiano. A travessia, à primeira vista simples, revela nuances que vão muito além do deslocamento físico entre dois países. É preciso ultrapassar também barreiras linguísticas, burocráticas e culturais.
Desde os primeiros dias de aula, o espanhol se apresenta como um desafio constante. Para alguns, a comunicação se torna uma dificuldade a mais; para outros, uma oportunidade de crescimento. Aprender um novo idioma amplia horizontes, estimula a adaptação e contribui para a formação de profissionais mais preparados para lidar com a diversidade.
As diferenças não param no idioma. A metodologia de ensino, a condução das aulas pelos professores e até a relação com os pacientes durante os estágios clínicos podem ser bastante distintas das experiências brasileiras. Enfrentar esse novo cenário exige flexibilidade, resiliência e, sobretudo, uma disposição genuína para aprender com as diferenças.
Além dos aspectos acadêmicos, há obstáculos práticos: o processo de regularização de documentos, muitas vezes burocrático e exaustivo, e a instabilidade cambial, que afeta diretamente o custo de vida e o pagamento das mensalidades. Tudo isso torna a jornada ainda mais desafiadora.
Por outro lado, viver em um ambiente multicultural oferece uma experiência enriquecedora. O convívio com colegas de diferentes regiões do Brasil e de outros países da América Latina mostra que a medicina é, acima de tudo, uma ciência humana e global. A troca de vivências e saberes contribui para uma formação mais empática e ampla, essencial para qualquer profissional da saúde.
A vida na fronteira, com todos os seus contrastes e desafios, ensina lições que vão muito além da sala de aula. Ensina sobre adaptação, sobre coragem e sobre a capacidade de seguir em frente, mesmo quando o caminho parece incerto. Para esses estudantes, estudar medicina na Bolívia não é apenas uma escolha acadêmica — é uma jornada profunda de transformação pessoal.