A morte da advogada Juliana Chaar, de 36 anos, vítima de um atropelamento ocorrido por volta das 5h48 do último sábado (21), em frente a uma casa noturna em Rio Branco, tem gerado grande repercussão nas redes sociais.
O caso teve início com uma briga generalizada dentro do estabelecimento, que acabou se estendendo para a rua. Dois grupos se envolveram em um tumulto com agressões físicas, disparos de arma de fogo e, em seguida, o atropelamento da advogada, que tentava apartar a confusão.
Juliana foi atingida por uma caminhonete preta, cujo motorista fugiu sem prestar socorro. Testemunhas relataram que o atropelamento foi intencional.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e enviou uma equipe de suporte avançado. A vítima sofreu traumatismo cranioencefálico (TCE) grave, fratura de fêmur e múltiplas escoriações. Ela foi intubada ainda no local e levada em estado gravíssimo para o Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), mas não resistiu aos ferimentos.
Tiros não atingiram a vítima
Contrariando boatos iniciais, informações oficiais confirmaram que Juliana não foi atingida pelos disparos efetuados durante a briga. A causa da morte foi o atropelamento, ocorrido de forma intencional, conforme relataram testemunhas e o gerente da casa noturna.
Keldheky Maia, amigo de Juliana, foi apontado por testemunhas como o autor dos disparos durante a confusão, embora negue ter efetuado qualquer tiro. Ele também foi atropelado, sofrendo ferimentos na mão, perna e testa.
Tanto Keldheky quanto outro envolvido, identificado como Dhiones Siqueira, foram detidos pela Polícia Militar. Ambos apresentavam sinais de embriaguez e precisaram ser algemados para garantir a segurança dos presentes antes de serem encaminhados à Delegacia de Flagrantes.
O Ministério Público chegou a pedir a prisão preventiva de Keldheky, mas a Justiça concedeu a ele liberdade provisória. Como medida cautelar, ele está proibido de deixar a comarca sem comunicar as autoridades e deve manter seu endereço atualizado.
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que a advogada foi atropelada pela caminhonete. O suspeito de ser o motorista, identificado como Diego Luiz Gois Passo, de 27 anos, teve a prisão temporária decretada pela Justiça na manhã desta segunda-feira (23).
A Vara de Garantias da Capital, que apura o caso como homicídio doloso, também autorizou mandado de busca e apreensão contra o suspeito, além da quebra de sigilo de seus dados telefônicos.
Em entrevista, o delegado Cristiano Bastos, da Delegacia de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), afirmou que diligências estavam em andamento para localizar Diego e que, caso ele não se apresentasse, seria considerado foragido.
Na decisão judicial, o Ministério Público manifestou-se favorável ao pedido de prisão, destacando que as investigações avançaram e há fortes indícios sobre a autoria do crime.
Além das imagens de segurança da casa noturna, várias testemunhas apontaram Diego Gois como o motorista da Hilux preta usada no atropelamento intencional de Juliana e também do namorado dela.
“A análise técnica das imagens permitiu identificar o indivíduo que conduzia o veículo. Foi possível visualizar suas características físicas e vestimentas. A prisão temporária encontra respaldo legal no artigo 1º da Lei 7.960/89”, afirma o documento judicial.
Advogado pode ser indiciado por tentativa de homicídio
A Polícia Civil do Acre informou que o advogado Keldheky Maia da Silva, que aparece em imagens efetuando disparos durante a briga, pode ser indiciado por tentativa de homicídio.
De acordo com o delegado Pedro Buzolin, da Divisão Especializada de Investigação Criminal (DEIC), o auto de prisão em flagrante foi inicialmente lavrado apenas por porte ilegal de arma de fogo. No momento da prisão, os investigadores ainda não tinham acesso aos vídeos que mostram os disparos.
“O delegado que lavrou o flagrante agiu com base nas informações disponíveis na ocasião. Até então, o que havia de concreto era o porte ilegal de arma. No entanto, o caso pode evoluir para homicídio tentado, já que ninguém foi alvejado, configurando o que chamamos de ‘homicídio branco’”, explicou Buzolin.
A arma utilizada não foi localizada no local do crime, e as circunstâncias do desaparecimento ainda estão sendo apuradas.
Segundo o delegado Cristiano Bastos, a polícia está analisando as imagens originais para esclarecer o que aconteceu com a arma.
“Ela não foi encontrada no local. Vamos ouvir testemunhas e dar oportunidade para que o advogado explique como essa arma desapareceu e se contou com a ajuda de terceiros. Caso fique comprovado, quem tiver colaborado também poderá responder por favorecimento pessoal”, afirmou.
Além disso, as investigações tentam determinar se Keldheky possuía registro e autorização para portar a arma. Até o momento, não há confirmação de que ele tivesse a posse legal.
Por fim, o delegado Pedro Paulo Buzolin informou que a Justiça autorizou o cumprimento de três mandados de busca e apreensão relacionados ao caso.