Vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico de extrema gravidade, ocorrido no último sábado (17), em Santos, no interior de São Paulo, a acreana Giselia Mubarac, grande dama da sociedade acreana, está convalescendo numa Unidade de Tratamento Intensivo à espera dos protocolos médicos para desligar os aparelhos e ela possa, enfim, fazer sua última viagem. Ela tem 88 anos.
As informações sobre a doença e a decisão da família de desligar os aparelho que a mantém vivendo artificialmente, tomada em comum acordo com os médicos que cuidam do caso, foi dada pela jornalista Nena Mubarac, uma das cinco filhas de dona Gisélia, em correspondência aos amigos, em Rio Branco, numa extensa declaração de amor à mãe querida. Nena Mubarac é ex-chefe do cerimonial do Governo do Acre nas gestões dos governos do PT e hoje, aposentada, vive em Santos. As outras quatro filhas de dona Gisélia todas tiveram destacadas atuação na sociedade local, entre as quais a procuradora de Justiça Gissele Mubarac.

“Ela, finalmente, estará no paraíso, onde sempre orou para merecer estar”. Foi um AVC hemorrágico de extensão gravíssima, que a apanhou de supetão, no último sábado, inundando seu cérebro de sangue e a levando a esse quadro considerado irreversível pela medicina”, escreveu Nena “Desde então, nós, suas cinco filhas, vindas às pressas de diferentes cidades, estamos aqui, de volta pra casa, novamente reunidas em torno dela – como há muito ela desejava, mas que o dia a dia de cada uma, por muitas vezes, não nos permitiu tornar realidade. “Estamos aqui, unidas, mesmo imobilizadas por uma espera desesperadora e agarradas num tênue fio de esperança, que só a fé que ela nos ensinou a ter desde criança, nos faz alimentar. Disse-nos uma médica que a está cuidando, que ela está como que dormindo…Minha mãe está dormindo… Talvez não acorde nunca mais para nos fazer o café, nos dar bom dia ou, simplesmente, estar aqui. Nós, ainda acordadas nesse pesadelo, arrumamos sua cama, guardamos suas coisas e separamos uma roupa que ela tanto gosta, para que ela, assim como exigia de nós, chegue arrumada e feliz diante do seu Deus”, escreveu Nena Mubarac.
A história de dona Gisélia seria digna de um filme daqueles de Hollywood, sobre o amor e dedicação à família. Filha de seringueiros, nascida numa colocação do Seringal Andirá, ainda jovem, já em Rio Branco, mesmo de origem humilde, ela parecia uma dama daquelas do cinema da Hollywood dos anos 40 e 50.
Pela beleza, foi eleita “Rainha dos Estudantes”, época em que também se apaixonou pelo grande amor de sua vida, o então radialista Alfredo Mubarac, na época locutor antiga Rádio Difusora. Aos 28 anos, já era mãe das cinco filhas e, como tal, teve que dar conta de casa, cozinhanhando, costurando e, ainda, dar aulas para ajudar no sustento a família. Talvez todo o esforço tenha sido a causa de um primeiro derrame cerebral, o que a levou para São pauo, em busca de tratamento. “Ela deixou a Gladys, sua filha mais nova, então com seis meses, para ser cuidada pela avó (a mãe de minha mãe), em Santos”, revelou Nena. “Suas outras quatro filhas tiveram que ficar aos cuidados do casal de amigos Aragão (Adalberto) e Célia”, disse a jornalista. Aragão seria deputado e prefeito de Rio Branco. Ele e dona Célia também já faleceram.
Enquanto dona Giselia lutava apela vida em São Paulo, em Rio Branco, sua filha mais velha, Sonia, então com sete anos de idade, era vista no quintal da casa dos Mubarac chorando e implorando a Deus que n~çao levasse sua mãe, ainda, “Ele atendeu e deu à minha irmã e a nós, então, mais 60 anos de convivência com nossa mãe”, disse Nena. “Minha mãe soube ser firme conosco, mas (como cabe à quase maioria dos filhos), nem sempre demos a ela as respostas que esperava de nós. Nem por isso vou usar de modéstia para dizer que também demos muito orgulho e alegrias à ela (mesmo sendo quase inevitável que, muitas vezes, para dar alegrias e orgulho aos pais, os filhos precisem, simplesmente, existir!)”. acrescentou a jornalista.
Segundo ela, sua mãe levava as filhas, aos domingos, à Escola Dominical. “Fazia com que nos arrumássemos para ir à Igreja e exigia de nós dedicação à doutrina cristã. Muitas vezes, rebelde, fui à Igreja sob ameaça de perder isso ou aquilo. Mas fui! E agradeço a ela por sua intransigência, pois foi ouvindo (mesmo obrigada) os hinos e os ensinamentos bíblicos, que alicercei muito do bem e do bom que se integraram e foram construindo o meu caráter”, disse.
Dona Giselia, como dama da sociedade local, era uma mulher de muitas amizades. Amizades conservadas por toda uma vida, como é o caso das senhoras Diza Tinoco, Wanda Jardim, Olda Cerete, Flávia Lavocat, Célia Aragão, Maria Luíza e tantas outras mulheres. “Minha mãe sempre se vestiu com elegância. Seu porte altivo, tão natural quanto despretensioso, é também uma marca que a identifica junto aos que tem o privilégio de conhecê-la. Minha mãe, ao ficar viúva de nosso pai, aos 60 anos de idade, guardou para sempre em seu coração o amor que os uniu em quase 40 anos de casados, só se permitindo, desde então, a viver a intensidade do amor maternal e fraterno.
Fonte: ContilNet