A volta às aulas no Afeganistão neste sábado (18) foi predominantemente masculina. Nos anos finais do ensino fundamental e em todo o ensino médio, as escolas só reabriram para os meninos. O Fundo das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unicef) lamentou a medida e pediu aos talibãs para “não deixarem as meninas de lado”.
Dez dias depois da reabertura das universidades privadas do país, o Ministério da Educação afegão anunciou, na sexta-feira (17), que “todos os professores homens e alunos” do ensino secundário voltariam às aulas, sem mencionar as professoras nem as alunas com mais de 11 anos.
A decisão alimenta a preocupação de parte da população afegã e da comunidade internacional de que o novo regime fundamentalista restaure as práticas radicais que implementou em sua primeira passagem pelo poder, de 1996 a 2001.
O movimento havia comandado uma política particularmente brutal em relação às mulheres, privadas de trabalhar, estudar, fazer esportes e simplesmente saírem desacompanhadas de um homem nas ruas.
“A Unicef parabeniza a reabertura das escolas secundárias no Afeganistão, mas sublinha que as meninas não devem ser deixadas de lado”, declarou a diretora-executiva da entidade, Henrietta Fore.
“É essencial que todas, inclusive as maiores, possam retomar a educação sem atrasos, e que as professoras também possam continuar a ensinar”, ressaltou Fore, que ainda frisou ou “avanços consideráveis no país nas últimas duas décadas”.
Neste período, o número de escolas triplicou no país e o de crianças escolarizadas passou de 1 milhão para 9,5 milhões, conforme a agência da ONU.
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Durante ato pró-talibã, em frente à Universidade Shaheed Rabbani, em Cabul, mulheres seguram cartazes e faixas – “nós não queremos coeducação”, diz um deles. — Foto: Aamir Qureshi
Desconfiança
Desde seu retorno ao poder, o Talibã tem tentado tranquilizar a comunidade internacional garantindo, entre outros aspectos, que os direitos das mulheres serão respeitados. Mas várias decisões tomadas pelo novo executivo afegão enfraquecem a confiança de que elas terão garantidos os espaços conquistados nos últimos 20 anos.
As mulheres mantêm o direito de estudar na universidade, mas terão de usar trajes abaya e hijab e, sempre que possível, as aulas não serão mistas. Nenhuma mulher foi incluída no novo gabinete, apresentado provisoriamente no início de setembro.
Já o Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, temido por seu fundamentalismo durante o primeiro governo do Talibã, substitui o antigo Ministério da Mulher.
Por RFI