Os indígenas venezuelanos, instalados desde abril na Escola Campos Pereira, no Conjunto Habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco, vão receber um abrigo construído para eles em 2021. O espaço usado vai ser o antigo prédio do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) do bairro Esperança.
Para a reforma do lugar, o governo do Acre deve investir R$ 350 mil. Atualmente, há 16 famílias, que somam 71 indígenas venezuelanos, entre idosos, crianças, adolescentes e mulheres, instaladas no abrigo provisório. A quantidade muda rapidamente, já que eles chegam e saem do estado quase que diariamente.
O grupo recebe assistência com alimentação, produtos de higiene, medicação e outras necessidades da Secretaria de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres (Seasdhm).
Os indígenas começaram a chegar ao estado acreano em setembro do ano passado em busca de refúgio e abrigo, fugindo da crise no país. A partir da entrada, era comum encontrá-los em semáforos pedindo ajuda.
Eles chegaram a se instalar em um prédio abandonado que fica no Bairro da Base, próximo ao Centro da capital acreana, mas foram despejados e depois passaram a morar na escola. Mesmo com a instalação, ainda é comum encontrar famílias de indígenas pedindo ajuda nos semáforos.
Mudança de prédio
Ao G1, o diretor de assistência social da Seasdhm, João Victor Mascarenhas, explicou que a obra é feita em parceria com a Secretaria de Infraestrutura do Acre (Seinfra). O espaço deve ficar pronto no final de janeiro para no início de fevereiro de 2021 os indígenas mudarem para o lugar.
“Já temos conhecimento de que aquele abrigo na Cidade do Povo é temporário, é uma escola e não é adequado. Estamos finalizando uma contratação de uma empresa para manutenção de um espaço que já existe na nossa cidade. Esse processo está em fase de adesão a uma ata da Seinfra, estamos na parte administrativa seguindo os ritos que precisam ser feitos. A ata é em consonância com a Seinfra para ser mais célere e mais rápida essa reforma, pensando no bem-estar do público”, destacou o diretor.
Ainda segundo Mascarenhas, o governo vai ser também uma licitação para comprar a mobília do abrigo. “Outras questões vem ocorrendo normalmente, que é o processo de alimentação todos os dias – café, almoço e janta – e a higiene deles. Tudo que falamos de dignidade já vem sendo alcançado e a questão da mudança predial estamos aguentando para, no máximo, no início de fevereiro”, frisou.
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Indígenas pedem ajuda em semáforos de Rio Branco após fugir da Venezuela.
Alimentação
No mês de novembro, a Seasdhm fechou contrato com uma empresa para fornecimento da alimentação dos indígenas. O serviço inclui café da manhã (pão francês e café com leite), marmitex para almoço e jantar. O valor total do contrato, válido por 12 meses, é de R$ 82 mil.
“Toda semana a secretaria fornece um sacolão para eles, toda quinta-feira, e estamos servido almoço na marmita com suco e uma sobremesa. Os Warao não têm os mesmos horários [de alimentação] da gente, café da manhã, almoço e janta. Eles passam o dia comendo comida mesmo. Então, fornecemos o sacolão e as refeições”, contou Cristian Souza, técnico de Assistência Social que trabalha no abrigo.
Mesmo com toda assistência dada, Souza falou que alguns indígenas têm o costume de pedir ajuda para as pessoas nos semáforos por questão de cultural. Em alguns casos, os indígenas são vistos com crianças no colo passando entre os carros.
Segundo o técnico, o Ministério Público do Acre (MP-AC) já orientou os indígenas de que é proibido usar as crianças para pedir nos semáforos.
“Estamos dando toda assistência, fizemos parceria com o Depasa sobre a questão da água portável, toda semana levamos 15 mil litros para encher toda cisterna para não faltar água e material de limpeza. Sobre esses que estão nos semáforos, o MP já foi lá, conversou, nós também conversamos, porque estão sendo bem assistidos. Só que têm essa cultura de pedir, mas o MP já proibiu o uso de crianças e explicou que não é permitido no Brasil”, concluiu.
Recomendações
Em dezembro do ano passado, o estado e a prefeitura de Rio Branco chegaram a receber uma recomendação para construir um abrigo para os indígenas instalados no estado.
O documento foi expedido pelos Ministérios Público Estadual e Federal, além das Defensorias Pública do Acre e Federal. O prazo era de 15 dias.
No final de janeiro deste ano, o governo acreano recebeu uma representante da União para debater as formas de ajuda e atendimento aos refugiados.
Mesmo com as recomendações, o abrigo só foi disponibilizado aos imigrantes venezuelanos 10 dias após a confirmação de casos do novo coronavírus no Acre.
Fonte: G1