WASHINGTON — Uma tabuleta de 3.500 anos, que narra a epopeia de Gilgamesh, foi devolvida ao Iraque nesta quinta-feira depois de ter sido roubada há três décadas e levada ilegalmente aos Estados Unidos.
— Para mim, significa restituir a autoestima e a confiança na sociedade iraquiana — disse o ministro da Cultura, Hassan Nazim, durante a cerimônia de devolução, em Washington.
Apesar de pequena, a peça tem um imenso valor cultural e histórico. Contém partes da “Epopeia de Gilgamesh”, um antigo poema épico da Mesopotâmia, considerada uma das obras literárias mais antigas da história da humanidade.
— É uma história que influiu em todas as grandes religiões monoteístas, deixando marcas também na “Ilíada” e na “Odisseia” — disse a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay.
Gilgamesh foi o quinto rei da primeira dinastia de Uruk — a primeira civilização urbana de que se tem notícia, localizada na região onde hoje fica o Iraque. Considerado o mais ilustre antecessor dos reis sumérios, ele reinou por volta de 2650 a.C. e foi objeto de lendas e poemas, passando a ser venerado como herói e, depois, divindade.
Para o secretário de Justiça assistente dos Estados Unidos, Kenneth Polite, a repatriação da tabuleta “em si é uma história de proporções épicas”. Segundo ele, acredita-se que a obra feita em argila tenha sido roubada de um museu iraquiano em 1991, durante a primeira Guerra do Golfo, e reapareceu no Reino Unido em 2001.
Um comerciante de arte americana a comprou de uma família jordaniana radicada em 2003 em Londres e enviou a peça aos Estados Unidos sem declarar sua verdadeira natureza na alfândega. Em seguida, foi vendida a antiquários em 2007 por US$ 50 mil com um certificado de origem falsa e depois, em 2014, por US$ 1,67 milhão dos proprietários da rede de artesanatos Hobby Lobby.
Um curador preocupou-se com as origens da tabuleta em 2017 devido à falta de documentação e a obra finalmente foi apreendida em 2019.
O Ministério da Cultura do Iraque pediu a outras organizações que examinem minuciosamente os artefatos de procedência duvidosa.
O Iraque teve seu acervo saqueado por décadas, inclusive após a invasão americana em 2003.
Fonte: Globo.com