Assim que soube que seria entubado, o médico Jaime Rider Carreno Limpias fez questão de escrever cartas para as duas filhas, de 9 e 12 anos, para consolá-las e acalmá-las e depois ainda fizeram uma videochamada. Dezoito dias depois, ele não resistiu e morreu. Limpias é uma das mais de 870 vítimas da Covid-19 no Acre.
Ele, que era boliviano e atuava como médico no Acre há mais de 16 anos, morreu no último sábado (30) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Juliana, em Rio Branco. Ele é o quarto médico do estado que não resistiu à infecção pelo novo coronavírus.
Três dias após perder o marido e ainda muito abalada, a enfermeira Paula Fernanda, de 39 anos, conversou com o G1e contou sobre a luta do médico contra a Covid-19 e como ele era apaixonado pela família. Ela também chegou a ficar internada com a doença no mesmo período que Limpias, mas conseguiu se recuperar.
Sobre as cartas, ela disse que chegou a ler rapidamente no dia em que ele escreveu, mas ainda não conseguiu ver novamente depois da morte do marido e, por isso, não se recorda exatamente o que foi escrito. No entanto, diz que foram palavras de consolo e acalento.
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Jaime era boliviano e atuava como médico no Acre há mais de 16 anos — Foto: Arquivo pessoal
A mulher disse que o médico não tinha nenhuma comorbidade e tinha uma vida tranquila. Apaixonado pela família, ele dividia seu tempo entre as filhas, mulher e o trabalho.
“Ele era uma pessoa excepcional, um ser humano extraordinário, não é porque era meu esposo, mas quem conhecia ele sabe. Ele não tinha problema com ninguém, era muito querido por nossos amigos, pela minha família toda, pela família dele que é muito grande e está toda na Bolívia. Ele não tinha um outro tipo de atividade que não fosse estar com a família ou estar trabalhando. Não tinha grandes ambições, queria só viver em paz com a família. As crianças estão seguindo, tentando entender o que aconteceu e eu estou meio sem rumo. A gente fica destruída, sem respostas, sem saber o que fazer.”
O Conselho Regional de Medicina do Acre emitiu uma nota lamentando a morte do médico. “Cientes da dor que passam os familiares e amigos, o Conselho expressa sua solidariedade e lamenta a grande perda para a classe médica.”
Fonte: G1